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setembro 30, 2023
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ARTIGO: “O ódio na política, até quando?”, por Leonardo Mota

Todos os dias, os brasileiros recebem por redes sociais, ou pela imprensa escrita ou televisionada, os ecos da guerra política que se instalou no país desde a eleição de 2018. Os que perderam não perdoam ao vencedor, o presidente Jair Bolsonaro. E muitos já se preparam para entrar em nova batalha, em busca de um lugar ao sol na política brasileira em 2022. A cortesia foi esquecida e a guerra vai desde frases maldosas até fake news e desaforos diretos. 

O sentimento de ódio se espalha além da mídia e leva a brigas familiares e de grupos. Parentes deixam de se falar para evitar discussões. Velhas amigas e amigos se afastam ou cancelam relações em whatsapps. Comentaristas ultrapassam os limites da prática jornalística e até no futebol os grupos se dividem além dos times. O twitter é o canal preferido dos adversários pela rapidez das postagens. Mais recentemente, até o Instagram vem sendo usado nas picuinhas. 

Fica difícil, além de cansativo, buscar a verdade no cipoal de fake news. Além delas, multiplicam-se empresas que se dizem especializadas em estatísticas e são usadas para fazer a propaganda de um único candidato, pairando nos 60 a 70% contra um grupo de 10 pequenos candidatos. Algumas emissoras de televisão, como a Globo e a CNN, agem como se as pesquisas fossem sérias e usam seus dados para também incentivar candidaturas. As empresas jornalísticas esquecem a regra do contraditório, que obriga o repórter a ouvir os dois lados de uma questão. 

O ódio na história 

Entre países, as relações azedam em períodos de guerra. A segunda guerra mundial foi o palco das trocas de informações falsas seguidas de bombardeios de verdade que destruíram boa parte das cidades europeias e japonesas. O exemplo mais devastador do clima de ódio foi o uso da bomba atômica americana contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. 

Depois da guerra, o mundo viveu uma temporada de guerra fria, em que grupos políticos se dividiam entre democratas e comunistas. Houve caça às bruxas em diversos lugares. Nos Estados Unidos, processos foram abertos contra artistas acusados de serem comunistas. No saldo de guerra, países se dividiram, com dois lados, um capitalista e outro lado com regimes comunistas, como a Coréia do Norte e o Vietnam do Norte. Na Europa, o exemplo marcante foi a divisão da Alemanha, separada por um muro entre dois governos. Parentes e até irmãos ficaram divididos por muros e arames farpados e impedidos de se comunicarem. 

Tanto ódio não ajudou a mudar a face da terra? Os movimentos pacifistas não têm sido suficientes para impedir novos confrontos. A ONU tenta unir as nações em práticas conjuntas a favor da paz e tem agido em guerras locais, como a mais recente, na Síria. 

O adversário 

O historiador alemão Carl Schmitt, no livro O Conceito de Política, afirma que a política exacerba a relação entre os contrários e a guerra é o resultado final das desavenças. Cabe as instituições internacionais agir para impedir confrontos e novas guerras. Para o historiador, é grande a dimensão que é dada ao conflito. O antagonismo amigo-inimigo é de todos o mais forte e intenso, e não afasta de si a possibilidade de provocar ou mesmo de sofrer a morte física. Mais uma vez este antagonismo é o grau extremo, segundo Schmitt, é o conceito levado e aplicado ao seu limite, ao extremo. Na situação limite o humano é lançado na sua origem contingente, quer dizer, ele se priva de qualquer garantia e se expõe ao risco da morte. A decisão final será sempre sobre a vida do outro. Essa é a situação política por natureza. 

Esses antagonismos se dão quando a dimensão da luta política extrapola os limites do Estado, que é o lugar ideal para a prática da política, considerando-se a divisão dos poderes. As desavenças   devem ocorrer preferencialmente no Legislativo. Segundo Schmitt, quando o setor privado assume as desavenças, ocorrem as escaramuças que estamos assistindo no Brasil. 

Esperemos que os grupos políticos em choque aceitem os limites das discussões para diminuir os choques entre amigos-inimigos. Na verdade, são apenas adversários, como os jogadores de uma partida que se cumprimentam no final de um jogo. Pelo bem do país.

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